sábado, abril 04, 2009

Tapas y cervezitas


A revista Veja, em sua versão Vejinha, divulgou os melhores da gastronomia de Porto Alegre, dia 2 de abril. Entre algumas agradáveis surpresa, apareceu A Toca, bar recentemente aberto na Cidade Baixa , recebendo o título de melhor chope. Imediatamente me lembrei da participação da Coruja no Mesa de Cinema, pois foi a única edição em que servimos cerveja. Estamos sempre entre vinhos e espumantes. Mas com o filme Tapas, de Jose Corbacho e Juan Cruz a cerveja tinha de estar no cardápio.

Era agosto de 2007. Nas primeiras horas de sexta-feira, chega uma esperada, mas não menos dolorosa notícia da perda de um amigo em Santa Catarina e a impossibilidade de dizer o adiado e temido adeus. O espetáculo não podia parar, compras a serem feitas, chef a ser recepcionado e tive de ativar na memória os bons momentos com o Dedé Ferlauto vivo, alegre, íntegro. E continuar entre tapas, cervejas e pimientos de Padrón. Como no filme... E chegam o chef Paquito - Vicente Más Gonzáles - e sua amada Fernanda diretamente do Rio de Janeiro para estrelar o Mesa de Cinema.

A trama de Tapas tem de tudo. Uma Barcelona fora dos clichês, com locações no subúrbio, mostrando a vida entrelaçada de cinco núcleos de personagens divertidos, calientes, perdidos, humanos. Até Ferrán Adriá aparece em um vídeo dentro do filme, ensinando a fazer umas tapas. No sábado, a emoção uma vez mais se espargiu pelo evento. A cada garfada, a cada detalhe do coquetel ao banquete meticulosamente preparado por Paquito sentia-se cuidado e orgulho de mostrar um pouco de sua cultura.
Na véspera, na cozinha do restaurante Moeda, já passava da meia-noite, e enfrentávamos um calor infernal depois dos pré-preparos, incluindo uma inusitada e instigante tarefa de limpar lulas frescas - puxa, elas são tão mais fáceis de lidar quando chegam branquinhas e já cortadinhas em anel! - Paquito fez a demonstração e seguimos na lida limpando o bichinho e separando "su tinta". Ao lado de Fernanda, Paquito é incansável, coordenando, orientando e supervisionando o ponto de batatas, alhos, pimentas, temperinhos e muitos, muitos, frutos do mar. O chef examinou equipamentos e ingredientes um a um, desistiu de fazer a paella em público como planejáramos para surpreender o público. Para ele, a paelleira não era ideal (a borda era muito alta) e ele não ia ensinar as pessoas algo errado. Ok. Chef manda, Rejane obedece!

Algumas delícias Paquito preparou em casa e trouxe prontas. Uma delas, os pimientos de Piquillo, uma pimenta que os espanhóis comem sem saber se vai arder ou não. E ele repetia uma frase da divulgação do filme: "La vida es como una pimienta de Padrón. A veces pican... y a veces no!" Padrón é uma região da Galícia onde se produzem esses pimentões pequenos verdes que se servem bem fritinhos e tem a característica de que alguns ardem como pimenta e outros são absolutamente doces.

Lá pelas tantas, ele larga: "Agora acho que tenho direito a uma cervezita!" Cervezita não. Algo mais que especial para o chef. Uma cerveja viva! Abrimos uma garrafa geladinha de Coruja, cerveja artesanal produzida na pequena Teutônia (RS) e que seria uma das atrações do coquetel do Mesa de Cinema antes do filme. Paixão ao primeiro gole. Só a garrafa, já atraía. Parece um frasco de remédio do antigos boticários. Paquito sorveu a preciosidade e fez juras de amor eterno. Queria levar para seu restaurante, o Parador Valencia, em Petrópolis, no Rio.

Falei a ele que achava difícil, pois a produção aqui era pequena, a logística de transporte até lá encareceria muito o preço final do produto e que a cerveja não chegaria em boas condições, pois é uma cerveja viva. Paquito me olhou, meditou e largou: ela corre risco de morte? Não comigo. Eu cuido, eu levo no colo. Qualquer problema eu faço um boca a boca. E sorveu um longo gole de sua garrafa para mostrar a técnica! Não sei se ele conseguiu convencer o Lança, um dos proprietários da Coruja, a ser seu fornecedor, mas conseguiu o que muitos cobiçam: a garrafa de remédio foi na mala!