domingo, março 15, 2009

Comendo negrão


Não se trata de antropofagia, canibalismo ou qualquer ato primitivo, mas aqui no Sul, desde muito cedo nos acostumamos a comer negrinhos. Não há festa de criança (e muitas de adultos) sem que a indefectível bolinha de chocolate apareça em seu esplendor e glória. O resto do País come brigadeiros. A receita é a mesma: leite condensado e chocolate na panela ao fogo, mexer até dar o ponto, deixa esfriar, faz as bolinhas e comer! Ah, sim, tem o granulado em volta da bolinha. Eu não uso e não gosto! Não tive a sorte de experimentar algum que me convencesse a conspurcar a delícia do negrinho com sua intromissão. A maioria é só gosto de gordura doce e seca... nem cheiro de chocolate! Pois, para minha surpresa, passei um dia desses – assim como quem não quer nada – na loja da Chocólatras, em Porto Alegre, e a Sony me mostrou a versão “sem pudores” de alguns doces, entre eles, o negrinho. Em tempos de anorexia exaltada em rede nacional, digamos que seja um ato de coragem da Sony. Mas também, a coerência impera, né? Não se poderia esperar que uma loja com o singelo nome de Chocólatras viesse com meias medidas. Qual o quê? As medidas são duplicadas! O negrão, o big branquinho e o trufão estão lá... impávidos deliciosos colossos! A versão civilizada que é normalmente oferecida tem cerca de 15g. O extra size pesa 35g. Tá, mas eu falava do granulado. Claro que provei o negrão da Sony (ops! gastronomicamente falando, claro). E além de ter a consistência, elasticidade e sabor exatamente naquele ponto que um negrinho deve ter, o portentoso doce estava envolto em um granulado crocante e, surpresa!, com gosto de chocolate! Ai, que delícia! Comi um negrão inteiro e fiquei beeeeeeeem satisfeita! Sem chance de bis! Vale a dica... afinal, a Páscoa vem chegando a galope, há que se ter algum estoque de pecado para comemorar!

4 comentários:

  1. Ahhhh q delicia de texto!!! Deu vontande de comer um brigadeiro, ops, no sul um negrinho. Mas fico com o little size. A paranóia não deixa heheh Bjus saudades. Parabéns pelos saborosos textos

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  2. Brigadeiro também tem uma conotação de canibalismo anti-castrista. Afinal, o seu negrinho ganhou esse nome pois era o doce que as madames faziam para arrecadar fundos para a campanha do Brigadeiro Eduardo Gomes

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  3. Je connaissais les brigadeiros que j’ai souvent savourés notamment lors de fêtes populaires mais pas les negrinhos que je découvre ici et qui ont l’air très tentants. Chez nous aussi, les pâtisseries ou les confiseries reflètent un petit peu de notre histoire nationale, notre triste passé colonial avec les « têtes de nègre » que l’on appelle maintenant pour des raisons que l’on comprendra « meringues au chocolat » et je ne peux éviter de penser alors au joli texte de Roland Barthes sur l’étiquette Banania dans Mythologies mais aussi notre passé catholique, marqué par l’emprise de l’église, avec nos « religieuses » et nos « pêts-de-nonnes » (et oui) qui ne sont pas sans évoquer pour moi Diderot ou certains objets de l’artisanat populaire du Nordeste. A propos de pouvoir de l’évocation, il est dommage que le site n’offre toujours pas d’espace de dégustation où l’on puisse goûter aux friandises et mets décrits et photographiés de façon si séduisante. Peut-être est-ce envisagé. Enfin, pour ma part, je préfère tout de même rester fidèle à la traditionnelle mousse au chocolat, moça chocolate dit-on en portugais je crois. Ah et puis une question: qu'est-ce que c'est que le big branquinho?

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  4. Bonjour, Michel!
    Branquinho é outro doce tradicional por aqui, feito com leite condensado somente, sem chocolate. A versão extra size, também disponível na Chocólatras, ganhou o nome de Big Branquinho.
    Manda pra gente a tua receita tradicional de Mousse au Chocolat, s'il te plais! Apesar da sonoridade semelhante, mousse não é moça... hehehe! Em português, mantivemos a mesma palavra, apenas grafando "musse", mas mousse é bem aceito também.
    Obrigada,
    Rejane

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